O dinamismo do mercado tanto microeconômico quanto macroeconômico tem aumentado cada vez mais movido pelo aumento do fluxo e da quantidade de dados disponíveis sobre as organizações.
Como consequência desse dinamismo, as informações consolidadas a partir dos dados financeiros se tornaram imprescindíveis para uma boa gestão, isto é, avaliando riscos e definindo as ações que mais convém para amplificar os lucros ou superavit e reduzir despesas.
Para isso, esse artigo visa explicar os principais indicadores de endividamento e alavancagem das organizações, assim como metodologia de cálculo, interpretação e ressalvas.
As informações financeiras necessitam ser úteis e capaz de auxiliar e servir de base para tomada de decisões mais seguras no meio organizacional, conforme relata CPC 00.
Os indicadores financeiros são baseados em demonstrações contábeis, elaborados de tal maneira para avaliar a liquidez da organização, ou seja, sua capacidade de quitar suas dívidas através das fontes de receita disponíveis.
É a subtração dos ativos totais pelos passivos totais, representando a quantidade de recursos que a organização possui, ou seja, o montante que os donos detêm da organização.
São as obrigações financeiras que a organização tem para honrar que serão cumpridas dentro do exercício social. (salários a pagar, despesas de luz, água, internet).
São as obrigações financeiras que a organização tem para honrar que serão cumpridas depois do exercício social. (fornecedores a longo prazo, parcelas de empréstimo de longo prazo).
Recursos da organização proporcionado por eventos passados com potencial de produzir mais resultados que serão realizáveis dentro do exercício social. (saldo em banco, caixa, estoques).
Recursos da organização proporcionado por eventos passados com potencial de produzir mais resultados que não serão realizáveis dentro do exercício social. (imobilizado, duplicatas a receber a prazo).
São recursos físicos que a organização necessita para realizar suas operações que não serão vendidas com intuito de gerar receita principal da organização. (veículos para transporte, imóvel de sede).
Trata-se de recursos que a organização possui sem substância física ou incorpóreo, ou seja, possui valor econômico, mas não tem existência física. (softwares, licenças, propriedade intelectual)
São recursos de livre movimentação, que podem ser utilizadas imediatamente, sem restrições, remete ao saldo de caixa livre da organização, seja por caixa ou valor em contas bancárias.
É o passivo total, soma do passivo circulante (2) com o não circulante (3).
É o passivo total (soma do passivo circulante com passivo não circulante) subtraído das disponibilidades (7).
Para fins didáticos, os cálculos dos indicativos serão calculados a partir deste Balanço Patrimonial fictício abaixo:
Remete ao lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (LAJIDA).
Remete ao lucro antes de juros e impostos.
Remete ao lucro antes do imposto de renda.
Também chamado de lucro operacional é o valor obtido pela receita bruta subtraída pelos custos e despesas administrativas, comerciais e operacionais.
Para fins didáticos, os cálculos dos indicativos serão calculados a partir desta DRE, demonstração do resultado do exercício fictício abaixo:
Os indicadores de endividamento são responsáveis por mostrar de onde a organização tira recursos para subsidiar suas operações, isto é, o quanto do patrimônio líquido e os ativos estão comprometidos com o pagamento de dívidas, para isso, temos 5 principais indicadores: endividamento geral (EG), Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRLP), composição do endividamento (CE), Dívida líquida/Resultado Operacional, Dívida bruta/patrimônio líquido.
O índice de endividamento geral (EG) é calculado pela soma dos valores do passivo circulante com não circulante, divido pelo ativo total. Quanto menor o índice, menor o endividamento, menos a dependência de capital de externo. Ideal que seja menor que 1. Logo,
Baseando no balanço de exemplo, o cálculo ficaria assim
Nesse caso, um índice relativamente baixo, revelando uma boa saúde financeira da organização. Comumente, por lógica, uma porcentagem alta indica saúde financeira ruim, porém, se ao analisar o mesmo índice dos pares da organização, forem observados altas porcentagens também, o endividamento da empresa pode não estar ruim.
O indicador de Imobilização dos Recursos a Longo Prazo (IRLP) é medido pela divisão do imobilizado e/ou intangível pela soma do patrimônio líquido com o passivo não circulante. Esse indicador propõe-se a avaliar o quanto do capital próprio e dos elegíveis a longo prazo estão comprometidos com composição dos imobilizados da organização. Assim sendo,
Baseado no balanço de exemplo, o cálculo, ficaria:
Logo, 79% desses recursos (PL e PNC) estão envolvidos com o imobilizado. Para analisar esse indicador é necessário estudar a área de atuação da organização, alguns setores têm muito mais participação do imobilizado do que outros, tornando necessário ou não uma maior participação dos recursos, por exemplo, uma empresa de consultoria tende a ter menos imobilizado que uma empreiteira, portanto, deve ter menos recursos comprometidos com essa finalidade, não o contrário.
O indicador de composição do endividamento (CE) é calculado por passivo circulante dividido pela soma do passivo circulante mais o não circulante. O endividamento a curto prazo costuma ser mais nocivo a organização, uma vez que é mais difícil de ser quitado, o endividamento a longo praz por sua vez é mais fácil de ser honrado pelas fontes de recurso obtidos pelos resultados do capital investido na organização, que pode ter faturamento desproporcional ao longo do ano. Então,
Segundo o balanço de exemplo, ficaria:
Quer dizer que 56% das dívidas dessa organização são de curto prazo, revelando um sinal de atenção, neste caso, para as contas desta empresa. Quanto menor a porcentagem, mais saudável para a organização.
O indicador de Dívida líquida/Resultado Operacional aponta uma projeção de quantos períodos uma empresa demoraria para quitar suas dívidas, sendo bem ilustrada no período anual. A dívida líquida, é a soma do passivo circulante e não circulante menos o valor disponível naquele período. O indicador será
Baseado no balanço de exemplo, o cálculo, ficaria:
Então a dívida pode ser quitada em mais de dois períodos, cada unidade representa um período necessário para a organização quitar as dívidas com seu resultado.
O indicador de Dívida bruta/patrimônio líquido mostra a relação entre o capital de credores e o capital próprio, ou seja, de onde provém os recursos da organização. O cálculo é feito pela divisão do passivo total pelo patrimônio líquido. Logo,
Segundo o balanço de exemplo, ficaria:
76% é o percentual entre o capital externo e o interno utilizado na organização, quanto maior o percentual, mais recursos de origem externa a organização possui, sendo assim, mais susceptível a variações do mercado.
A alavancagem é o uso de capital de terceiros ou de instrumentos financeiros para atingir um nível de produção maior, que não atingiria com capital próprio, ou seja, um investimento para aumentar sua eficiência. Por sua vez, seus indicadores refletem a saúde desses investimentos, se realmente irá proporcionar um aumento de lucro ou superavit da organização. Os principais são: Dívida líquida/ EBITDA, participação do capital de terceiros (PCT), grau de Alavancagem Financeira (GAF), Grau de Alavancagem Operacional (GAO), garantia de capital de terceiros (GCT).
O indicador Dívida líquida/EBITDA mostra o grau de endividamento da organização de maneira diferente, pois demonstra se há espaço para um volume maior de dívidas, podendo, assim, utilizar mais recursos de terceiros para produzir mais receita.
Baseado no balanço de exemplo, o cálculo, ficaria:
Então, a cada unidade do indicador representa um período que a empresa demoraria para usar seus resultados para quitar as dívidas, no caso de exemplo, menos de um ano. Porém, é preciso ter cuidado com esse indicador pois muitas organizações têm grande parte da sua receita comprometida com despesas financeiras.
O indicador de participação do capital de terceiros (PCT) é calculado a partir da divisão do passivo total pela soma do passivo total mais patrimônio líquido, esse indicador mostra a proporcionalidade entre o capital externo e o próprio.
Segundo o balanço de exemplo, ficaria:
Logo, 43% do capital envolvido na organização é de origem externa. Quanto maior o coeficiente, maior a presença de capital externo na organização, tornando-a mais vulnerável às instabilidades do mercado.
O indicador de grau de Alavancagem Financeira (GAF) apura o quanto do resultado está sendo comprometido por juros provenientes de capital de terceiros, ou seja, quanto mais perto de 1 estiver o valor do indicador, menor está o impacto dos juros no resultado da organização.
Baseado no balanço de exemplo, o cálculo, ficaria:
Apontando que no caso do balanço de exemplo, está mostrando um valor proficiente de GAF.
O indicador de Grau de Alavancagem Operacional (GAO) mostra a variação da proporção do lucro operacional em relação a receita, isto é, quando o valor é positivo, indica uma otimização em algum processo na organização, logo, os investimentos realizados obtiveram êxito em alavancar a organização, contudo, muitas vezes a variação observada na receita é refletida nos resultados. O cálculo do GAO é feito pela análise de um período de exercício, isto é, considerando o inicial, primeira data do período e o final, última data do período, por exemplo, no caso de comparação entre os meses de janeiro e fevereiro, o fevereiro seria o final e o janeiro inicial, por ordem cronológica,
Segundo a DRE de exemplo, ficaria:
O ideal para analisar esse indicador é utilizar vários períodos de exercício, isto é, dois intervalos de tempo, para analisar crescimentos ou decréscimos na relação entre lucro e receita.
O indicador de garantia de capital de terceiros (GCT) está ligado ao custo de utilização de capital, quanto maior, melhor, menos propenso à riscos, ideal que seja maior que 1, pois assim os recursos próprios são capazes de honrar o capital de terceiros.
Segundo o balanço de exemplo, ficaria:
No caso de exemplo, como 1,32 é maior que 1, o indicador está demonstrando uma utilização de capital proficiente.
As dívidas de uma organização são naturais e nem sempre são elemento negativo, podem trabalhar a favor dos resultados financeiros, quando diminuem custos e despesas ou aumenta receitas.
Um indicador de endividamento e de alavancagem nunca deve ser avaliado de forma isolada, sempre é necessário analisar vários indicadores com proposito semelhante, assim como comparar com os mesmos indicadores de outras organizações do mesmo ramo de atuação, porque cada setor apresenta suas peculiaridades e é preciso observar os indicadores por períodos diferentes, a fim de observar sazonalidades. No entanto, para uma análise completa da organização, é indispensável examinar minuciosamente o planejamento financeiro completo, bem como as vantagens competitivas no mercado e potencial do serviço/produto ofertado.